Este hotel é caríssimo. Essa é a má noticia. A boa é que vale todas as liras (a Itália tern um efeito tão hipnótico que até nos leva a esquecer a diluição cambia».

Em primeiro lugar, não vale a pena resistir a uma terrinha com um nome como Amorosa, sobretudo se viajamos acompanhados. Nasceu no século XIV, nas colinas dos arredores de Siena, com vista para os vales floridos de Chiana.

A vila de Sinalunga, a dois minutos de carro da localidade, fica a uns breves 214 quilómetros do aeroporto romano de Fiumicino, sempre por autoestrada (fazse numa hora e meia, sem ser interrompido por um "carabinieri" mais zeloso). Num raio de 100 quilómetros, o acesso a Siena, Arezzo, Assis, Perugia, Pienza, Montalcina ou Montepulciano (tudo paragens obrigatórias) é fácil e prazenteiro, em estradas de curva gentil e paisagem que parece criada propositadamente para si.

Não há nenhum sitio no mundo como Itália, na perfeição religiosa entre historia, cenário e mesa, e não há nenhum sitio em Itália como a Toscana, das montanhas selvagens aos castelos rejuvenescidos pelo Renascimento, dos olivais à mais bonita de todas as árvores ocidentais, o cipreste. E há o céu, também, fino e fugaz pela manhã, dum azul escuro vivissimo ao entardecer, despreocupado 'ma non troppo' com os visitantes.

A Toscana não se descreve, visitase, mas este Locanda dell'Amorosa ("locanda" é o nome dado às estalagens medievais, que se manteve ao longo dos séculos) já se pode espreitar em palavras. É um hotel de luxo, destinado aos afortunados de bolsa (a esmagadora maioria) e aos malucos da cabeça (é o meu caso) que se disponham a pagar um mínimo de 234 euros por noite (sem pequenoalmoço) num hotel de provincia. Mas o Amorosa não é um hotel, é um vicio. Começa nas raízes etruscas e em Giovani di Biagio, que da¡¡ escreveu para a capital em 1331, e passa pela familia Picco Corrini de Pienza, que foi proprietária do lugar até 1873 (o sitio so mudou de senhorio uma vez durante 700 anos). O Amorosa não tem muitos quartos, mas preenche o terreno outrora ocupado, no início do século passado, por uma aldeia de 120 pessoas (só para terem uma ideia das dimensões da coisa...).

Recuperado em meado dos anos 50, tem hoje um restaurante construido nas antigas cavalariças da aldeia, de cozinha requintada mas com inspiraçáo nas tradições regionais, uma lindíssima piscina de fim falso no topo da planície (para melhor se contemplar a paisagem, mesmo dentro de agua), uma Osteria (o bar de vinhos que reúne toda a produção vitivinícola da região), olivais, vinhas, um pequeno bosque, um campo de trigo e outro de girassóis, todos óptimos para umas belas passeatas.

Se não tiver cuidado (e não insistir nos banhos e passeatas), arriscase a inflacionar uns quilitos. O restaurante (de primeira água e vinho) é chefiado por Davide Canella e tem um par de adornos de boca de cair para o lado, como o uso do "salami de Trequanda", os queilos das encostas de Pienza e as inadjectiváveis (como diria o "chef" Bénard da Costa) trufas brancas de Giovanni d'Asso (um reparo para os estreantes: é favor não menosprezar o aspecto das ditas parecem batatas mirradas, mas custam os olhos santos da cara). Os vegetais servidos, ou as tortas a rematar, são todos fruto do cultivo e produção próprios do hotel. Como antecipaçâo ou epílogo, a Osteria tarnbém não ajuda a linha. Além do Peconino, estáo disponíveis o Brunello di Montalcino e o Vino Nobile de Montepulciano (além dos muitos Chianti e do óptimo vinho produzido ali mesmo, na Fattoria dell'Amorosa).

Em complemento ao céu na terra e ac, céu no céu, sirvase tudo com um saltinho a Siena (no período prérenascentista, é visita quase imbativel) e um quarto principescamente personalizado, onde as gravuras e antiguidades são partilhadas por uma enorme casa de banho, uma sala de estar e o quarto propriamente dito.
Entendamonos: o Locanda dell'Amorosa proporciona o milagre da ressurreição.

Como lá chegar - De avião até Roma; alugando um carro no aeroporto Fiumicino Leonardo da Vinci, siga pela auto estrada A12 em direcçao a Roma quando encontrar o Grande Raccordo Anulare (uma espécie de gigantesca circular que contorna a capital italiana), vá até Fiano Romano; continue mais 39 quilómetros até passar junto a Orte; a partir dai são 105 quilómetros, sempre sem sair da autoestrada, até à saída de Bettole; estará entáo a seis quilómetros de Sinalunga. Aí chegado, pergunte pela Amorosa (além de útil, é uma bela pergunta).

Quanto é preciso pagar - La Locanda dell'Amorosa Localitá L'Amorosa/ Sinalunga (Siena) Toscana Tel. 0039 0577677211 Fax 00390577632001 www.amorosa.it email amorosa@abitarelastorla.it Preços (2003) quarto "standard": 234 euros quarto "superior": 280 euros quarto "deluxe": 325 euros suite: 365 euros Dez por cento de reduçáo para ocupação individual Encerra de inicios de Janeiro a inícios de Março

Pedro Marta Santos